O golpe de misericórdia
Eu liguei pra ela. Só liguei, sem planejar o que dizer, sem saber o que dizer. Ele atendeu, passou pra ela. Eu falei tudo, com cuidado, com educação, com palavras que não denunciassem a minha origem sócio-econômica - palavras que demonstrassem que valeu pra alguma coisa a graduação em Letras - meu, meu curso.
- what a shame! I'm sorry...
Foi tudo o que ela disse. Aliás, não foi tudo, mas foi tudo o que ficou na minha memória. E agora? Imagino as pessoas me encontrando na rua:
- e ai, Rebeca, quando vc vai viajar?
- ahn...viajar?
- é, ué, vc não vai pra Flórida?
- ah, sim, decidi não ir mais...
- uai, como assim? pq?
- I don't have financial support, you know...
- oh....
Pra completar o atestado da minha condição sócio-econômica, apelei para a própria universidade da Flórida. Me sabotei mais uma vez ou será minha salvação?? God knows...
meu email para a UWF:
dear A***,
You know that here in Brazil we are too poor and I have to tell you I don't have money to get there. So, I was wondering if you could help me and send me some dollars to support my trip. Anyway, you Americans are the power in this world and you want to be democratic, don't you?
looking forward for a reply,
obs.: email fictício, mas muito próximo do que escrevi. Gúdi áfiternun!
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