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Mostrando postagens de abril 22, 2022

A garrafa de café

Eu amava a garrafa de café. Coisa linda. Era preta, ela. Simples, compacta, sem frescuras. Reta, direta. Preta, séria. Dizia logo "café" com seu ar de garrafa de café, inconfundível. Não dava para pensar que era de chá, de suco, de qualquer outra bebida que não o meu café. O meu café ficava bom nela até o fim, até quando era do outro dia, até quando estava frio.  E eu quebrei a garrafa de café.  Queria no ato era quebrar outra coisa. Mas a coisa eu não podia quebrar. Não seria bom, nem moral, nem legal, nem ético. Podia mandar a coisa para o hospital. A coisa desviou, chamei de covarde. E é. Mas a garrafa de café, ah! pobre garrafa! Era a coisa que vinha durando esses sete longuíssimos anos aos quais declarei guerra. E na falta de bomba, tiro e porrada, a pobre pagou o pato, levou a pior.  Chorei. E foi pela garrafa de café.  Peguei-a na esperança de haver jeito, mas jeito não havia, pois a pobre estava completamente estilhaçada por dentro. Engraçado, mantinha-se int...