Melancolia de fim de ano: Ainda uma vez...
Escrevi este texto num repente, ontem. Falta ainda falar dos amigos, e de mais e mais detalhes, etc etc. Por hora, é isso que 2011 me traz... as lágrimas e a saudade e os porquês...
rosa de vidro. |
"Não sei explicar o porquê das lágrimas, mas tem mil motivos:
fim de ano me comove. É uma etapa que acaba e não volta. Não vou ter a mesma
chance nunca mais, perdi a doçura de certas coisas e pessoas, negligenciei
sorrisos e oportunidades, não dei importância às flores, pequeninas no meio da
grama alta. Só vi a grama. Por outro lado, findam-se os pequenos momentos de
prazer a sós, prazer a dois, aquele pequeno beijo no meio de tudo, a gota de
suor, as palavras, a pergunta que fica no ar, respondida pelo olhar. Choro por
todos os momentos que escondi a lágrima, que não chorei, que devia ter chorado
simplesmente de emoção, de dor ou de prazer. Choro tudo agora, numa avalanche
de sentires e prazeres e dores. Aí a busca pelas musicas melancólicas dos anos
80 principalmente, é inevitável.
Eu choro pela viagem aos EUA que quase foi. Eu choro pelas
28 primaveras contadas. Eu choro pela formatura. Eu choro pelo concurso. Eu
choro por meus pais. Eu choro pela irritação de uma vida que não vai, de uma
vida – minha – marcada pelos atrasos, bons e maus. A menstruação que tardava,
teimando em me manter na infância; o primeiro beijo que provei frivolamente em
meio a uma festa, já em idade adulta; a primeira vez amarga, sem preparo, ainda
que em idade “própria”; o primeiro amor igualmente amargo, nunca esquecido ou
curado; o segundo amor, ainda mais amargo, ainda não curado; os amores e casos
vividos com inexperiência, intensamente por minha parte, apaixonadamente, e nem
tanto pela outra parte... pelas outras partes. Caba não 2011!! Volta!! Ainda
uma vez eu quero beijá-lo, mesmo que seja pra depois me virar as costas e me
deixar largada no meio do caminho. Ainda uma vez quero dizer que o amo, que me
apaixonei, que gosto, que quero mais uma noite, duas, mais uma chance, a chance
que nunca tive. Ainda uma vez quero tentar viajar pra Flórida, aprender a
nadar, caso necessário. Ainda uma vez preciso vê-lo arremessar aquela bola,
correr atrás dela, cair na grama; ver aquele sorriso de satisfação, aquela voz
de menino grande, aquele jeito simples, meio grosseiro, meio infantil, tão
próprio dele, tão... perfeito. Ainda uma vez quero que ele me diga por que não,
porque eu ainda não entendi. Ainda uma vez preciso ouvir dele que estava
acompanhado em tal festa, que mais cedo ou mais tarde eu o verei namorando por
ai, que terei que engolir esse sapo.
E ainda uma vez, pro meu primeiro amor, quero roubá-lo
alguns minutos de sua “dona”, fazê-lo meu, botar aquela lingerie vermelha e ser
dele ainda uma vez, ainda que sendo a outra. Olhar nos olhos dele e sentir a
mesma coisa que senti quando nos olhamos de frente, olhos nos olhos, pela
primeira vez, há quatro anos.
E mais uma vez, perguntar ao amor que quase foi, sem esperar
a poeira baixar, por que fui trocada assim, sem maiores explicações. E
perguntar ainda a um outro também porquê. Por que eu nunca consigo
entender/aceitar.
Dizer que quero os dois amores com a mesma intensidade,
acreditem eles – e vcs – ou não.
Olhar pra 2011 ainda uma vez e pedir perdão àqueles outros
que se candidataram a amores, mas que por uma razão ou outra, eu não quis, não
pude. E fazer todos verem, enxergarem, entenderem o quanto tudo isso dói numa
mulher, essas pequenas coisas ditas e não ditas, o telefonema que não se dá, a
visita que não ocorre, o sexo sem compromisso que satisfaz o momento, mas não o
tormento da solidão. Que faz procurar em muitos lençóis o que sabemos que não
vamos encontrar: o dia seguinte, o bom dia, o carinho... o quanto dói sentir
uma rejeição contínua, e o quanto é difícil construir disso, ou antes,
continuar tendo disso auto-estima.
Choro por que me dá preguiça 2012: olho e vejo meus
pequeninos sobrinhos, cujo futuro sinto que de mim depende, em grande parte.
Sentir que devo trabalhar e juntar dinheiro não pra mim, mas pra eles, os
pequeninos irmãos que tiveram a sorte/azar de nascerem juntos, um pequeno
menino e sua apimentada irmãzinha... não são meus – e não pretendo ter meus –
mas é como se fossem. Assim foi com o pai deles. Quando ele nasceu, eu tinha 8
anos e lembro: era um bebê ruivinho, foi ficando gorducho, branquinho,
diferente de mim e do outro irmão, tão amulatados. Eu me sentia também mãe
dele, aquela criaturinha que, não sabendo pronunciar bem a letra R, me chamava
de beca. Mal cresceu e tornou-se pai precipitadamente. Seus pequenos são minha
responsabilidade também, a futura tia solteirona, quiçá rica, da família.
Ainda uma vez, 2011, olhar pra você e pedir perdão aos meus
pais por tudo que fiz e pelo que não fui pra eles. Eu formei!!! E isso foi um
grande presente pra eles, um grande passo de superação pra mim, mas também o
motivo de nosso afastamento cada vez maior. Sinto que logo vou ser a mãe dos
meus pais.
Olho minha agenda: marquei todos os nomes das muitas noites,
das festas, dos reencontros, as figurinhas repetidas que podiam sumir desse
álbum, as que podiam ficar pra sempre sem problema de repetição. Fechar o
álbum, comprar outro, outras figurinhas? Nessa cidade tão pequena, fica difícil
não esbarrar em um ou outro e ter repeteco de lances que podiam bem me deixar
em paz. Duro é saber que há quem prefira nem me ver por aí...
Alunos. Ganhar gratidão, amizade, festa surpresa de
aniversário, presente, dizerem que você sabe tudo e eles nada, tudo que faz
valer a profissão e não tem preço. Ex-alunos que agora estão fazendo o mesmo
curso que eu, apesar de mal falarem comigo. Outros que passaram em outros
cursos. Alunos mais novinhos que acreditam em tudo que você diz – poder. Outros
que desconfiam de tudo. Outros em quem você se vê quando mais novo e pensa, é, ela
vai longe ainda... a magia de aprender enquanto se ensina, e vice-versa.
Adolescentes, adultos, os que querem, os que não querem, os que os pais querem
que aprendam inglês e vc tem vontade de dizer q estão gastando dinheiro à toa –
talvez não né, quem sabe. Crianças, sobretudo, mimadas, desafiadoras,
inquietas, encantadoras, chatas demais, questionadoras em excesso sobre coisas
fúteis – internet, cores preferidas, jogos, facebook, Orkut, celular – e sobre
coisas úteis - bem, não me lembro de
nenhum exemplo rsrsrs... Medo de ensinar o que for pra elas, muita
responsabilidade. Reunião de pais, medo que te cobrem, que briguem, que te
xinguem, o que dizer a eles?? Admiro-os. Ter filhos não é pra qualquer um.
Minha mãe nasceu pra isso, já eu...
Ah 2011! Me deixa e não deixa com tanta dor! Volta pra se
despedir, se despede direito de mim, fica um pouquinho, tenho medo de 2012 –
fim do mundo? – vamos contar até dez de trás pra frente, e aí... você pode ir.
Aí eu choro de novo, por tudo isso que você já sabe. Beijus. Bye."
...
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