Reflexões familiares

"Senhor, tu me sondas e me conheces" 
Salmo 139:1
Pegasus, by Luigi Coloni. Ma-ra-vi-lho-so!!!

Não tenho mais avós. Eu refletia sobre isso ontem, e hoje ainda vi uma daquelas mensagens prontas no face, dizendo que ninguém diz que ama os avós, se vc ama, compartilha aí... Não sei se cheguei a amar meus avós, isto é, aquele sentimento de proximidade e carinho, aquele sentimento romântico nunca tive. Tive respeito, mas não pude conviver muito com eles, aprender deles. O pai da minha mãe nunca conheci, e nem ela, mesmo porque ele se foi quando minha mãe tinha 6 anos e ela mal se lembra dele. Conheci os outros três, os pais do meu pai e a mãe da minha mãe. Ano passado, perdi o único que restava, aliás, a única, a mãe do meu pai, e bem no 11 de setembro.

Tenho certeza que perdi grandes fontes de sabedoria. Eu nunca soube direito do passado dos meus pais, que dirá dos meus avós. A vida deles deve ter sido difícil, num tempo em que os pais deles é quem decidiam tudo, inclusive com quem iam (sobretudo as mulheres) se casar. Com a minha avó paterna foi assim. Conversei com ela uma vez e ela me contou que, quando estava começando a se interessar por um rapazinho, aos 17 anos, de repente se viu noiva e casada com meu avô, que não era o rapazinho em questão. E ela me contou isso com uma cara muito séria e triste.

Minha outra avó ficou viúva muito nova, mas com 4 filhos para criar, não pensou muito em si mesma, foi trabalhar e "distribuiu" os filhos para os parentes: minha mãe viveu boa parte da vida com uma tia, um tio meu ficou num internato, os outros dois não sei bem, com outros tios, imagino. Quando minha vó voltou a pensar em si, já estava idosa e sem muita vontade de romantismos. Ela sempre foi durona, não era carinhosa com os filhos e nem com os netos, me lembro bem. Não tinha paciência. Acho que se ela fosse dos tempos de hoje, não teria filhos. Puxei minha avó, pra bem ou pra mal.

Na verdade, não sei. Fico pensando nas famílias que possivelmente sairão da minha família: minha irmã já tem a dela, meu irmão mais novo se precipitou e tem uma família meio bagunçada, meu outro irmão tem uma namorada mais velha e eu estou só, pensando se caso ou compro uma bicicleta, se planto uma árvore, escrevo um livro ou tenho um filho. Mas esses três não são opções, são as três coisas a se fazer, não é? Pois bem eu tenho um livro, já plantei uma árvore, um jacarandá inclusive, na ocasião da formatura. Plantei simbolicamente, porque nem estava lá quando plantaram, mas sempre passo perto do jacarandá quando caminho pela UFV. Não publiquei o livro, mas hei de. Falta o filho.

Penso às vezes que quero, penso às vezes que não. Penso numa coisinha linda que não sabe nem falar direito, tentando andar e me chamando de ma-ma. Depois mamãe, depois mãe. Penso nessa coisinha adolescente dizendo que eu não o/a entendo, e que estou velha e não sei de nada. Penso que dependendo da minha reação, vamos fortalecer os laços ou romper tudo de vez. Penso nessa mesma coisinha (esse era meu apelido quando criança, mas só na família) com 18 anos passando no vestibular da UFAM (Universidade Federal da Amazônia!!!), bom, não precisa ser tão longe assim, mas imagino-o/a saindo de casa e eu lá, com o coração na mão, lembrando de tudo que me aconteceu quando eu saí de casa pra estudar. Imagino-me como a mãe chata que liga toda hora, toda semana pra saber dele/a. E imagino meu filho/a fazendo engenharia, direito, medicina, se dando melhor do que eu nessa vida. Imagino que não saberei cuidar dele/a, que por mais que tente, ele/a fará escolhas erradas, vai sofrer, vai chorar, não vai me contar tudo que lhe acontece, mas eu vou perceber que tem algo de errado e vou sofrer também, ai... não aguento pensar em tudo isso, e pensar em tudo isso é muita loucura, mas sempre sofro por antecipação, e que antecipação, já que nem vislumbre de pai para essa coisinha eu tenho. Porque se não tiver o pai, eu não terei filho algum. Preciso de uma família. Preciso ser avó também, mas espero que minha filha não engravide aos 14 ou menos, e nem meu filho acabe engravidando alguma garota antes da hora. Espero que sejam melhores do que eu, mais espertos, mais sábios, mais tementes a Deus do que eu já fui, ou tenho sido, ou tenho tentado ser.

Quero passar a educação cristã que tive, sem isso eu não seria eu, não sobreviveria. Deus é tudo, é o mais importante. Mas eu sofri tantas transformações ao longo desses 6 anos viçosences que já não me sinto muito capaz de falar sobre Ele, de ensinar sobre Ele, como se tudo que eu penso em passar fosse falso porque eu mesma não segui à risca. Como vou poder cobrar? Vou esconder o meu passado, tal como meus pais? Meus pais não esconderam, mas também nunca me contaram tudo, e nem eu a eles. Isso eu gostaria de mudar, se a "dinastia" Melo Silva continuar. Contar tudo aos filhos? detalhes a gente sempre esconde, por vergonha, ou por não achar necessário, mas contar tudo sim, ser mais aberto, mais franco, mais próximo dos filhos. Tenho até os nomes, sonho às vezes. Mas não tenho a menor condição de ter um filho nesse momento: tenho idade, mas não um marido ou vida financeira estável, bom, estável até que está, mas vivo arrumando contas aqui e ali, não controlo bem as finanças.

Estou fazendo muita coisa depois de "velha". A vida inteira ouvi que tinha mãos de pianista. Isso me envaidecia, mas depois comecei a ter raiva. Minha mãe, da última vez que estive em Sampa, me disse que queria que os filhos dela tocassem juntos, aí eu retruquei, é, mas vcs (meus pais) nunca colocaram a gente pra aprender nada, só ficam falando sem fazer nada!. Como disse meu atual professor de teclado/piano, eu já tenho a música dentro de mim. Meus pais cantavam na igreja, e são afinados. Meu presente de sete anos foi um disco gospel que eu ouvia todos os dias e decorei todas as músicas. Eu imitava (tentava) Elton John cantando. Música e línguas, sempre foi assim, e tudo muito se interliga na minha vida até hoje. Aí entrei para o coral Voix-lá na UFV. A música sempre "falou" comigo. Agora estou indo para os instrumentos, aos 28 anos. E ainda quero pintar quadros, já pintei em tecido, mas nunca em tela, gostaria de tentar. E a arte de escrever poesia também, está tudo ligado, meu pai é igualzinho, ele faria letras também.

Lembro-me de ter ido à casa de um primo da minha mãe e lá tinha um belo piano de cauda no meio da sala. Eu ia dormir lá e ouvi, à noite, alguém tocando. Desci os primeiros degraus da escada e fiquei lá, olhando, admirada. Será que eu vou tocar um dia?? Não foi isso que pensei na hora, mas penso agora. Não estou indo mal, mas acho que não vou aprender por ter talento, mas por técnica mesmo.

E meu filho/a? vai tocar, escrever, pintar, sonhar também? God knows... terei um/a filho/a? Only God knows. So bless me, my Lord. Amém.

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