Dia nacional da poesia preguiçosa
Ah, é a vida que me clama e reclama, sem paz. O movimento de ir pra
frente me cansa só de pensar, por isso, no mais das vezes a vida me
empurrou. Sou reacionária inatamente. Não há o dinheiro para as contas,
não há dinheiro para o pão, mas há a ansiedade que Ele pregou para não
haver. Se eu me mecher, sei que tudo muda, o mundo muda, as coisas
mudam, mas sei que se não me mecher, mudarão fatalmente, aleatório
destino. A mudança me empreguiça e emperra.
Viveria de amor, pudesse. E de cantoria e poesia, fosse boa a voz e a pena. Não garanto a voz, somente a pena, apesar de hesitante ser. A música vibra, ainda que em voz desarmoniosa e informe. As teclas do piano quase que sinto sob os dedos, ainda que não as toque.
São muitas as decisões que me cabem sobre minha própria vida. E como vivia eu antes sem tomá-las todas? Não as tinha, simplesmente. Não tinha as decisões porque não tinha a vida em mãos assim tão minhas. Tinha-a nas mãos de mamãe e papai. Quando a mim foi dada, estremeci. E ainda hoje tenho cá bambas as pernas, a voz, o hálito e as decisões, sempre hesitantes. O hálito que me enoja a boca de manhã, me abre os olhos sonolentos e me amrga o sabor da vida, sabendo que terei que levantar e trabalhar. Não que não goste, mas todo o processo de ir é que preguiça me dá. Muita, em demasia, much. Nasci no dia nacional da poesia preguiçosa, deve ser. Aquela poesia de Macunaíma, só na malemolência, faltando-me apenas a malandragem que jamais possuí.
Mamãe marcava médico, me levava, resolvia as coisas pra mim. Ao mesmo tempo que gosto de resolver as coisas, o processo antes dessa tomada de de cisão de ir, IR, me processa e mói. Me preguiça de um jeito que quase me jogo pra fora da cama e me soco na cara pra ir. IR. levantar, sacudir a poeira... e a volta por cima é consequência. Se tiver, pura sorte de veterana na arte da preguiça.
Vamos que vamos, burocracia, Porque quando resolvo encarar, tenho que ir e vou até o fim. Deve ser porque é Outubro, Halloween. A witch tá solta! Boa noite.
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