Hoje é o dia
Hoje é o dia,
eu quase posso tocar o silêncio...
Hoje é um daqueles dias em que eu tive vontade de nem sair da cama. Mas a sociedade e a máquina capitalista não perdoam, esteja você do jeito que estiver, guarde as emoções e problemas numa caixinha, ponha a máscara e vá trabalhar. Acordei irritada, cansada, desanimada, vontade de dormir o dia todo. Não tenho dormido de todo mal; o baby desde ontem está mexendo muuuuito e o namorido ronca um bocado, mas isso não me atrapalha. O que tem me atrapalhado são preocupações e dores nas costas, pernas, oscilações de humor que imagino serem próprias da gravidez. Ou não, porque como já bati inúmeras vezes nessa tecla, meu humor sempre foi instável, mas não a ponto de tornar o dia a dia insuportável. Tem dias que na verdade, minha raiva torna-se insuportável pra mim mesma. Hoje a raiva está pouca, o que me mata é a melancolia, tristeza, cansaço. Aí eu começo a analisar minha vida pelo prisma mais negativo possível, e parece que os acontecimentos à minha volta colaboram. Agora mesmo, aqui na sala de monitoria, tem uma colega ensinando pronúncia de inglês para uma possível intercambista, que inclusive já comprou a passagem para, provavelmente, USA. Essa possibilidade está cada vez mais longe de mim, mas, sonhadora que sou, planeja juntar uma grana e vamos nós três, daqui a uns 3 anos pra Disney. Por que não? Sonhar é o único espaço possível de liberdade pra quem sofre com as pressões do capitalismo, feito eu. É tudo tão injusto. Hoje eu via uma reportagem sobre a morte do MC Daleste, e a exploração da imagem do pai dele, faziam uma entrevista de merda, ridicularizando o cara, um homem simples que mal sabia responder aos "brilhantes" questionamentos daquele Geraldo que se diz jornalista. Tipo, pareceu que algum superior por trás das câmeras mandou ele ficar lá enrolando pra dar ibope. Só lamentei e senti pena daquele pai, porque a justiça pode até ser feita, mas pode e vai demorar um bocado porque o cara era funkeiro, pobre - estava ganhando grana por causa do funk - sem escolaridade e, por um tempo, fazia funk proibidão, atacando a polícia. Quem será que deu cabo do pobre cabra?? Difícil dizer né... Affs. E o tal do Geraldo: "O que estamos estranhando é essa demora na investigação..." Esse cara quer mesmo que a gente acredite que está demorando, que em geral, tudo é feito com seriedade e rapidez pela polícia? Claro que o seria se o rapaz em questão fosse um Thor Batista, por exemplo. Esse mundo me revolta e eu pensava em não por mais uma pessoa nele exatamente por causa dessas coisas. Mas sou só uma pessoa a mais pra reclamar, na verdade faço nada pra mudar, nem votando mais estou, justifico sem vontade mesmo de votar. E vai a gente por a boca no trombone pra ver se não se torna o próximo da lista de mortos! Não quero bolsa-família, quero salário justo e direito real de ir e vir que o dinheiro mesmo dá. Porque liberdade está presa a ele. Posso andar até outra cidade e depender da esmola alheia, e isso não é liberdade. me sinto mais livre tendo la plata. Cuspo no capitalismo mas preciso de grana porque tudo depende dela, até morrer. Viver. Nascer.
My dearest baby, sinto por estar transmitindo emoções negativas a você; sinto por não colocá-lo num mundo melhor; sinto por poder transformá-lo num burguês ou numa pessoa mimada, ou ainda numa pessoa que tem uma vidinha medíocre de bolsa família ou reles empregado. Outro dia mesmo pensava em colocá-lo em uma creche particular, escola particular, mas universidade federal. Caracoles, estou perpetuando a coisa, mas o que fazer, como criar? pensava em criá-lo com música, esportes, dança, teatro, cinema, acesso, não lhe negar nada, ou negar o que eu acho que não é bom. O que EU acho. Como dar autonomia a um filho/a? Como criar? Graças ao boníssimo Deus e meu pai consegui marcar novas consultas. Que outro ultrassom seja marcado, aí saberei se minha intuição está certa ou não. Bye!
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