Carambas em BH
Faz um ano e meio que não durmo direito, e tem a ver com escolhas, aliás, uma escolhinha que não me deixa dormir a noite toda. Ser mãe é tudo que dizem e muito mais, mas também tem me trazido muitas dores, suportáveis, por certo. Não posso dizer que padeço no paraíso, mas é aquele tipo de experiência que só vivenciando-a pra compreender.
Estava pensando há muitos dias no tratamento que recebemos pelo SUS e pelo particular. Assisti a uma cena de novela quando o filho de dois anos de uma personagem sofria uma queda e imediatamente a escolinha comunicava o fato à mãe, que o levava ao médico, que por sua vez pedia uma bateria de exames, incluindo uma tomografia, acho. Minha filha bateu a cabeça uma vez também - na verdade, algumas vezes - e nessa eu a levei ao médico, isto é, ao Hospital na cidade onde ela nasceu. Depois de algumas horinhas esperando, a mocinha que a atendeu - até hoje não sei se era médica, residente ou enfermeira - encaminhou-a pra fazer um raio-x, ao que outra moça, dessa vez uma enfermeira mesmo, gritou que o raio-x estava quebrado e seria usado somente em casos de extrema urgência - hein??. Bom, aí nos encaminharam pra um médico novo e bonitinho que estava preguiçosamente sentado em sua cadeira esperando sei lá o que e fazendo nada. Ele olhou a Lídia, olhou no relógio, disse que pelo tempo que já tinha passado da queda dela, sem nenhuma reação, poderíamos ir embora. Ponto. Caramba. Quer dizer que se eu estivesse pagando de novo - sim, porque eu pago através dos impostos e pagaria de novo direto ao médico - o atendimento seria semelhante ao do menino da novela?? Caramba.
Eu soube também que muitos cargos públicos que não exigem formação superior pagam até quatro vezes o que eu ganho como professora. Caramba. Caramba. Que eu fazendo aí um doutorado posso ganhar um salário de no máximo 3 mil. Caramba. Volto todos os dias da escola pra casa cansada, com dor nas costas, às vezes dor de cabeça, os gritos e risos e zombarias e más respostas dos alunos ecoando na minha cabeça pra isso? Caramba. Mas não sei fazer outra coisa. Não estou me dando maravilhosamente bem no que faço porque até os alunos me sugerem o que devo fazer, mas... sei lá, penso que estou no lugar certo sem nem saber explicar bem o por quê. Masoquismo? Não. É uma coisa muito mais profunda e forte enraizada em mim: uma crença, um ideal. Uma ideia. Sobre isto, favor assistir à cena inicial de A Origem, quando o belo Leonardo DiCaprio explica o poder que uma ideia tem. :)
Mudei há pouco tempo para a grande BH, vontade antiga minha e coincidentemente do meu marido. Um concurso feito há quase três anos me chamou, e olha que eu estava até bem colocada na lista, enfim... cá estamos e cá ficaremos, com toda a nossa história e dificuldade. Mudar de cidade é a nossa maneira de esquecer. Nós nos mudamos em todos os sentidos que essa frase pode ter, mas eu de certa forma, e sempre continuo um ser deslocado, se procurando. Esse assunto fica pra depois, pois a minha escolhinha está em casa esperando. Bye.
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