Passport e a passagem do tempo
Meu passaporte venceu hoje, em branco. Nenhum carimbo de viagem a país nenhum. Uma grande frustração para mim. Sempre que vejo fotos de amigos que viajaram pra outro país, uma tristeza profunda me toma. Parece tão fácil para eles! E nunca o foi para mim. Durante minha graduação, todo ano tinha bolsas, mas eu nunca tentei, e nem cheguei a me informar se eram bolsas integrais ou parciais. Achava que meu inglês wasn't that good, então nem tentava, e esperava também que algo pra levasse pra lá, não sei o quê. Então resolvi tentar no meu último ano de graduação, acho. Fui a Juiz de Fora, fui a São Paulo, conversa com banco daqui e dali, tudo vão. Pelo empréstimo e prazos, vi que não valeria a pena, juros altíssimos. Cheguei ao departamento de letras e comuniquei que não iria mais. Me aconselharam a ligar para uma professora que podia ajudar, mas ela apenas disse "que pena". Foi a pá de cal final. Todos os outros participantes do programa eram jovens de classe média, média alta, estavam tranquilamente indo. E eu, que tirei uma nota boa no teste Toefl de inglês, estava lá sem grana e portanto, não iria. Com nível de inglês, passaporte na mão, mas não iria. E não fui. Pedi pra sair do grupo que haviam criado enquanto eles conversavam sobre alojamento, onde iriam ficar, etc. Doeu. E nesses cinco anos, deixei pra lá. Me formei, casei, tive minha filha, formei família, sou professora do estado aqui em MG. Parei com esse sonho, guardei na gaveta. Se antes estava difícil, como farei agora que tenho família? Mas um sonho nunca deixa de pulsar dentro da gente.
Pensei em colocar fogo no passaporte. Não foi fácil nem simples tirá-lo. Fui a Juiz de Fora algumas vezes, no dia da foto, com a minha melhor roupa. Enfim, gasto financeiro e emocional. Toda vez que alguém me pergunta se já fui para o exterior, tomo isso como um elogio e uma dor: muitos falam do meu bom inglês - que atualmente está enferrujando - mas isso também mexe com a ferida aberta há cinco anos.
O tempo. Cinco anos parecia tanto e tão distante. E já passou. Nossa vida é curta ou longa, tão limitada e extensa, tão... imprevisível e sensacional. Tudo depende do ponto no tempo-espaço em que nos encontramos no momento. Me sinto ultrapassada para certas coisas, sobretudo para os dois sonhos que me movem: a viagem ao exterior e a publicação do(s) meu(s) livro(s). Tenho a minha filha e com filho tudo muda, não é só uma frase clichê, é a realidade, mas uma realidade que a gente só toma consciência quando temos um pequenino em casa querendo a atenção all the time. É maravilhoso mas extremamente e intensamente desgastante. É preciso preparo, ainda que ele venha durante a vida do pequeno ser.
Não fiquei tão triste assim hoje. Este ano completo meu trigésimo-terceiro ano e sei que ainda tenho algum tempo pra fazer certas coisas que urgem: tomar mais água; fazer exercícios físicos; comer mais frutas e verduras; controlar o mau humor; dar mais bom dia às pessoas; ser mais feliz; e claro, ainda realizar os meus dois trabalhos de Hércules: livro e viagem. Livro e viagem, livro e viagem, mantra, auummmmm... :)
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