Semana de 22
Vi um gato morto ontem, o rosto desfigurado. Não olhei muito, mas me compadeci, tive vontade de retirá-lo dali ou pedir alguém que o fizesse, só não tive coragem para nem um nem outro. Fui embora. Pensei em ir ao cinema ver Moonlight ontem mesmo, para relaxar, estava caída, triste, coisas da sala de aula. A constatação de que, por melhor pessoa e teacher que eu possa ser, as minhas ideias, ainda que ditas e claras, não necessariamente vão penetrar e fazer parte daquelas vidas e pessoas que encontro uma, duas vezes na semana. Devia ter me dado conta disso antes, já tinha me dado, mas a cada ano, a gente precisa reunir forças e acreditar no melhor para continuar. Ou não. Voltei ontem, inclusive, a pensar num escape, numa outra coisa para fazer. Botei meta: 10 anos. 2025. Que fazer até lá? Trabalhar e aguentar certas coisas, certa feita, certas situações. Lutar, lutar sempre! abraçar as causas, as greves, que sempre apoiei, e apóio.
Vou ao cinema em outra feita, outro dia. Tenho me alimentado de vídeo-aulas de literatura, uma degustação tão sublime de conhecimentos e complexidade humana que é isso que quero, que sempre quis, estudar, alimentar o ser, a alma. Questiono-me agora se não escolhi the road that everyone takes, the easisest, the most secure. Casada, com minha filha acriar, conseguirei rumar para outra parte, explorar aquilo que me pulsa?
Escrevi um poema hoje, por fim. Na aula, ouvi que a inspiração importa, mas é preciso talento para escrever um livro inteiro. Me fez pensar, ainda não sei se isso me desanima ou encoraja. Professor Rodrigo Barreto é fera. Estou acompanhando o curso dele sobre a Semana de 22. Quando vi o anúncio, lembrei-me que na época da faculdade em que eu pensava em reproduzir essa semana nos seus 100 anos, ou mesmo lançar uma nova. Em qual escola literária estamos? Só saberei, se muito viver, no futuro. Ou nem. Gosto do modernismo e do romantismo. Dos Andrades e do Álvares. Robert Frost, Poe. Jane Austen, Cecília Meirelles, conhecendo agora Rachel de Queiroz. O Machado, então! Vergonha minha que como estudante de Letras, mal tinha tempo de ler um livro inteiro, era tudo aos pedaços, menu degustação. Agora, quem sabe, consigo ler o Grande sertão, e finalizar o que leio no momento, O Quinze.
Acompanhei também a aula-live sobre a Pauliceia Desvairada, de cujo nome minha mãe ria. Um prefácio de fato interessantíssimo, e declarado inútil pelo próprio Mário. Mário, Vinícius, Cecília, Rachel, Clarice, nomes abençoados. Contrário dos Kauã, Ana, Maria, Kathleen, Anne, Gabriel com quem me encontro, forçosamente todos os dias. Não se engane o lietor, não odeio a profissão tampouco meus alunos: tenho raiva do sistema escolar, da falat de educação em todo sentido, de não conseguir, como ponderei no início, alcançar o aluno. Frustrada estou. Logo passa. Continuemos, rezemos, oremos!
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