39 anos - meu aniversário
Comecei a escrever uma lista no facebook de 39 coisas sobre mim, mas parei pois, além desse tipo de coisa estar fora de moda nas redes sociais, achei-a frívola e fria, eu falando de mim mesma. E quem melhor me conhece? Deus, claro.
Escrevo porque assim sou. Para além de talento ou dom natural, eu escrevo, escrevo porque sim. Não é bem porque quero ou gosto, faz parte de mim. Ainda que seja uma bosta, coisas inúteis, que ninguém vá ler ou entender, que eu não vá ser conhecida e reconhecida, escrevo porque assim sou. É como a pessoa que nasce naturalmente com a voz melodiosa, boa, afinada: ela canta porque faz parte dela. Ainda que nunca seja famosa e reconhecida, que nem ganhe rios de dinheiro, ela vai continuar cantando porque assim é. Faz parte dela. Então quer eu queira ou goste ou não, escrevo, escreverei.
Estamos a um passo do segundo turno para a presidência entre, (que surpresa!) Bolsonaro e Lula. Não falarei disso. Tem me cansado e assustado demais. Nunca vi o país desse jeito, as pessoas assim. Acho que foi realmente o pós-pandemia. Vai ser assim nos livros de história lá no futuro: período pós-pandemia. Que período! What a time to be alive...
No auge dos meus 39 ano acho que vou bem. As descobertas sobre nós mesmos, ainda que ruins, deixam-nos mais seguros e confiantes na vida, para seguir em frente. Eu sempre pensava que, caso algo acontecesse comigo que me prendesse a uma cadeira de rodas, por exemplo, eu não mais quereria viver, ficaria isolada, sei lá. Hoje já não acho isso. Com o passar do tempo, o que queremos é viver, seja lá como for.
Ainda me comparo às vezes. Me chateia as pessoas bem mais jovens que já conseguiram por exemplo, fortuna, viajar para o exterior, ser reconhecidas por seu "trabalho". Coloco entre aspas porque o trabalho do momento é ser influenciador digital, e isso é uma designação vazia para mim do que seja o que a pessoa faz. Mas sou de outra geração, da última talvez que ainda crê na força dos estudos e do trabalho nos seus moldes convencionais: carteira e concurso. Meu irmão disse que estou muito cringe. Graças a Deus. Tenho estranho orgulho de ter nascido nos anos 80, de ser quem sou, de ser de minha geração. Não acho que sou de geração melhor do que a de hoje, nem que a das minhas avós, porém é a melhor para mim, pois nasci nela. A de cada um é a melhor para si mesmo e ponto. Uma aluna me perguntou se o mundo não tinha piorado nos últimos tempos. Sei lá, toda época do ser humano tem avanços e retrocessos, uns maiores, outros menores. Acho que toda época é totalmente incomparável com a próxima, só podemos comparar com a que passou, e a que passou não tinha tecnologia, mas a maior e melhor invenção da humanidade foi a eletricidade. Vivi 16 anos sem tecnologia (internet, celular, tinha tv) e vivi bem. Normal. Acredito que estamos não em outra época, mas em outra era, já que o milênio virou. De 2000 para cá é outra humanidade. Estamos construindo o entendimento sobre gênero, sexualidade, relacionamentos, respeito, fé, religião, democracia, sociedade. Fico feliz de vivenciar esse momento que, apesar de complicado para emitir qualquer opinião, é extraordinário e importantíssimo para a consolidação do que quer que venha depois. Momento, portanto, de profunda reflexão e transformação de todos nós.
A maior transformação pela qual passei nos últimos tempos foi em relação à religião. Ia dizer fé, mas esta nunca mudou: onde estive, em tudo que fiz de certo e errado, ela esteve comigo. Nasci crendo no Pai e morrerei em seus braços tranquilamente. Durante meus anos de faculdade, percebi que a igreja pouco se preocupou em acompanhar de perto a minha vida, de estender a mão realmente. Muitas vezes me sentia suja, mentirosa, porém fui percebendo que esse meu incômodo não era percebido ou até era ignorado pelos "irmãos". Eu mesma tomei as rédeas da situação e me freei. Na verdade, foi um trabalho conjunto com Deus e foi aí que percebi que eu e Ele podíamos viver assim, sem o culto de domingo, sem dízimo, sem oferta, sem terrorismo para fazer isso ou aquilo senão eu estaria condenada. Não estou. Não porque não quero ou tive alguma revelação divina, apesar de que acredito que esse insight foi sim divino quando passei a me policiar, mas porque passei a ouvir o deus que há em mim. Calma, explico: não sou deus, mas Ele habita em mim, certo? Portanto se ele habita em mim, não preciso ir a parte alguma buscá-lo, Ele está aqui, Ele está onde eu clamo por Ele, sozinha ou em conjunto com outras pessoas, em templo concreto ou embaixo do chuveiro, sentada na cadeira da igreja ou no sofá da minha casa. Ele vai comigo onde eu vou, eu o aceitei e Ele me aceitou, estamos um com o outro assim creio, assim penso, assim sinto. Busco que a oração de Cristo seja real em minha vida: que eu seja uma com o Pai, assim como Cristo foi. Leia a passagem aqui.
Quantas vezes vi nas igrejas em que estive, pessoas simples, vestidas de chinelo de dedo, com buracos nas roupas, serem quase que obrigadas e dar o que não tinham, aterrorizadas talvez pela possibilidade de arder no inferno. Eu era muito apegada ao dízimo, para mim era questão de honra. Porém também me vi em situações de ter que escolher entregar parte do meu salário ou pagar uma conta, ou comer. Parei de entregar, com medo, mas parei, sentindo que estava errada, mas parei. Tenho estudado melhor as palavras bíblicas e os medos começam a se dissipar, também o entendimento verdadeiro começa a aparecer: "e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará."
Também não compete a mim dizer ou apontar quem é salvo e quem é ou vai ser condenado, se é que essa condenação existe ou existirá. Sim, estou pensando de uma maneira que nunca pensei que passaria na minha mente, mas assim é a vida, esse é o mérito de viver: aprender e mudar. Tenho profunda gratidão a Deus por estar me fazendo melhor a cada dia, nunca perfeita, pois estou no plano humano ainda.
Eu falho muito, sobretudo com as pessoas. Já falhei e errei muito com muitos e até comigo mesma. Hoje, quase sem amigos, eu não prometo nada, sei até onde vou, sei o meu limite e estou em paz. Confesso que piso e ovos para não ter que pedir desculpas depois. Prefiro me afastar, me isolar. Ah, o orgulho!...
Enfim. Feliz 39! Aquela vontade de infância de ter festa persiste, mas eu já sou grandinha, já entendi. Por isso fiz meu bolo, aproveitei o dia trabalhando mesmo, recebi um presente do marido, o parabéns carinhoso e sincero da minha pequena. Feliz 39! Bye!
Comentários
Engraçado, tenho a mesma sensação. Há pouco tempos me pegava pensando nisso: tudo bem se eu vir a ficar paraplégica, isto é, não quererei morrer por conta disso, como em algum momento acreditei que desejaria.
Belo texto.
Feliz aniversário atrasado
(eu, de fato, esqueci).