Pequenas mortes e Shakespeare


De alguma forma, bem dentro de mim, eu sempre quis morrer e sempre morri um pouco. Preciso de morte, como se dela dependesse eu viver. Mas essas pequenas mortes estão se acumulando rapidamente dentro de mim e a vida não está tendo espaço nem tempo pra vir - não há tempo ou espaço pra eu renascer. 

Lanço mão de recursos banais do dia-a-dia pra me distanciar da morte e da dor, pequenas mas altamente persistentes: música alta no som, cozinhar qualquer coisa, comer, brincar com minha gata, preparar e dar aulas, pesquisar e ler bobeiras na internet, achar coisas legais, como o blog Isabellices, onde achei uma monografia super interessante sobre arte-educação, que estou lendo. Ah, as distrações me distrem por um segundo, por isso uso-as freneticamente. Ouvir música o tempo todo no ouvido também é o que há; não vivo sem música. às vezes faço caras e bocas e olhares na rua como se estivesse num filme ou clip. Será que ninguém repara? Tenho impressão que não, mas reparei que repararam no meu choro de ontem - aquele por causa dos meus dentes - mas que as pessoas se inibem, nada pode fazer. Mas havia uma criança na hora, e ela fez muito por mim: me olhou nos olhos, sorriu levemente, o que me fez chorar ainda mais. Uma bela menininha; que seja uma bela e feliz mulher.

Não estou vencendo as pequenas mortes: os términos de meses, de anos, de rolos, de tolos, de amantes e ficantes, de livros, tudo me mata e me dói numa amplitude absurda, que tento controlar, sem muito sucesso, porque toda noite vêm as lágrimas me avisar da realidade, junto com as lembranças. Passado é passado, mas diga isso à minha mente....

Letargia... não sei porque essa palavra veio na minha cabeça agora. Acabo de sair de uma palestra sobre Shakespeare, muito boa por sinal, com uma especialista no assunto. Engraçado que uma pessoa que gosta do que faz consegue mesmo te levar a mergulhar no assutno e, até 10 minutos atrás, eu estava na era elizabetana-shakespeareana-jaimesca, pensando nos teatros, na rainha, no rei, etc. Ao sair da palestra, mais uma pequena morte que foi o término da mesma: caí em mim, com cólicas e fome e desconforto intestinal, pra não dizer outra coisa... 

Amanhã é dia. baile soul no leão, aulas de manhã cedo, reunião do teatro à tarde, leão à noite. Ufa, tá faltando alguma coisa em mim, não sei. Morreu alguma coisa e falta renascer outra no lugar.

Boa noite.

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