O mal



Havia ainda mais um lado nela, esse lado atroz. Feroz e voraz de comida fresca, vingança. Nessa, ele pagou o pato. Ela não latiu nem avisou dessa vez, foi lá e mordeu, bem forte. Nada que ele não merecesse, ainda pouco.

Ainda esse lado aflorava, mas com todo requinte. Ela não iria às últimas consequências, só sendo extremamente necessário, como um último recurso a lançar mão.

A força da raiva alimentava tudo, necessária. Não era assim que deveria ser? Então todos pisavam em sua cabeça e ela devia ainda estender um tapete vermelho pra que limpassem os pés? Tapete vermelho de seu sangue, não. Não!

Houve discussões, xingamentos e ameças. Ah, se a internet estivesse à mão nakela hora, ah! se estivesse, mas não estava. Nada estava.

Ela sentia frio, tremia, suava, sentia orgulho de si e ainda um vazio imenso. Carregava um riso irônico no rosto e seus eus brigavam dentro de si. Bem, mal...

Um senhor lhe entregou um papel-sinal-mensagem que dizia: Pratique sempre o bem sem olhar a quem... Ironia...

Ela não conseguia se arrepender, apesar de saber do erro. Acordou com certa culpa na consciência, mas passou como um pensamento idiota, um sonho. A vida é idiota, pensava. Mas nos seus dias de bem com ela, elevava uma oração sincera ao criador e sorria para as crianças na rua. Nessas horas, a vida ganhava um sabor mais doce, um novo tom, novo ânimo. Mas eram raros momentos. O que restava no dia-a-dia era o estresse e o trabalho, e os to do.

Mais fácil é o mal, que está dentro. Bem exige esforço e disciplina. E ela se imaginava aos 50 anos fumando e contando uma história macabra de como havia prejudicado alguém. E como não se arrependera, apesar de tanto tempo de castigo na solidão de seu próprio mundo. Um mundo que se resumia a fracasso, quarto, banheiro e cozinha num apê. Era ela, em breve. Era ela lá e nem assim se redimiria. Porque o céu, onde não entraria, estava aquém de si.

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