Invisibilidade da identidade


"No pain inside... nothing can touch me..."
Pink - Sobber

Ainda tem a dor por dentro, mas vou levando... a dor é pior quando só se tem o apoio da solidão do próprio quarto, da cama, as lágrimas no travesseiro ou mesmo a máscara do eu-finjo-ser-forte...

Tem os gigantes. Domingo na igreja falou-se de gigantes... quanto maiores, melhores, maior a vitória; mas que dá medo, dá! Eu consigo rir do meu sofrimento e dos meus amorecos de adolescência hoje, mas na época achava que aquela dor nunca ia passar... era um sentimento autêntico, a dor; a ilusão do amor, nem tanto. Espero que na próxima década eu consiga rir também, porque por enquanto, não.

Tem os projetos. Vou subir de cargo, vou ter mais turmas, mais responsabilidade; vou ter possivelmente o mestrado, estudar mais a fundo coisas que nos inquietam a respeito da língua (estrangeira e materna) e seu processo de ensino e aprendizagem.  Identidades... me ocorreu hoje invisibilidade enquanto lia um texto para prova do mestrado. A identidade é flutuante, é formada de múltiplas miríades e eu viajando em mil coisas... Me sinto invisivel naquele departamento, porque sou a aluna ex-aluna professora que está na segunda graduação e vai talvez pro mestrado... identidades: quem somos?

No meu RG (ou CI) consta meu nome, nome dos pais, data de nascimento. Existo desde 1983, sou um número. CPF, idem. Título de eleitor ... aos 16 podemos ser honrados com o título de.. eleitor! Tá... Certidão de Nascimento: data e hora do nascimento, nome completo, nome dos pais, sexo, avós maternos e paternos... engraçado que consta na minha que minha avó era brasileira e meu avô, falecido. Seria cômico se não fora trágico, ou ambos. CV Lattes: sou apenas aluna de tal instituição, que participou de tal e tal evento, publicou tal e tal artigo/trabalho/ensaio e blá-blá-blá... sou número, ainda, parte dos "grandes pesquisadores do país" - ainda não. 

Ao nascer, me tornei filha, irmã, neta, sobrinha, prima, caçula (até dois anos e pouco) ... muita coisa nos vem pronta, até o nome que mal sabemos e nem escolhemos. Meus pais decerto imaginaram uma menina de grande beleza física pra por meu nome, qualidade que nunca foi meu forte... nasci com pés tortos, usei bota ortopédica por menos tempo que deveria, depois foram os dentes, sempre me dando problemas... mais recentemente, o estômago, o intestino e o cabelo que não pára de cair. E ultimamente tenho me questionado por que sempre tenho que ver as coisas pela ótica do negativo... hábito.

A inclinação do mundo para valorizar seus pecados deve-se menos à paixão do que ao hábito, disse Santo Agostinho. Peco, então, sempre, habitualmente e habilmente, se a (falta ou excesso de) modéstia me permite. Ah vida!

Será que saber e refletir sobre tudo - tudo mesmo, de Freud até por que aquele cachorrinho ali está largado na rua - é realmente bom... parece que não saber de nada nos preserve numa aura de pureza e segurança muito maiores do que o saber... Mas o saber cria a habilidade social, talvez, maior acesso, atuação efetiva no mundo como cidadão... o que eu prefiro? quem sou eu?

Pra mal ou pra bem, sigo alimentando minha sede de conhecimento, inata. 

Keywords: Habit. Identity. Who am I?

Bye. :)

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