Navigare necesse; vivere non est necesse


Navegar é Preciso
Fernando Pessoa

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: "Navegar é preciso; viver não é preciso". 

Quero para mim o espírito [d]esta frase, 
transformada a forma para a casar como eu sou: 

Viver não é necessário; o que é necessário é criar. 
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. 
Só quero torná-la grande, 
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo. 

Só quero torná-la de toda a humanidade; 
ainda que para isso tenha de a perder como minha. 
Cada vez mais assim penso. 

Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue 
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir 
para a evolução da humanidade. 

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.

Voltei hoje de Cabo Frio, pena que foram apenas dois dias, e tirei fotos como se fossem dias e dias. Mas valeu a pena: só de por o pé na praia, na areia, no mar, ainda que com aquela água nada convidativa de tão gelada, já me senti melhor, menos estresse, menos "tenho que". O mar é uma coisa magnífica. No segundo dia em que mais me animei para curtí-lo infelizmente tiveos que vir embora. Olha o "ter que" mandando novaente. A vida ordinária ruge e urge atendê-la, pagar as contas, essas coisas.

Navegar, viver, viajar sobretudo é preciso. Se não se sai do lugar, que se leia um livro, taí também uma viagem. Ou mais modernamente, que se veja um filme. Tantas formas de viajar e todos nós gostamos mesmo é da saída de lugar e de postar caras felizes e sorridentes, ainda que a vida não seja só de momentos assim. Ora, quem é que vai postar fotos de si mesmo triste, chorando, pobre, cabisbaixo? É se vitimizar, mas pode ser também pedir ajuda. Em tempos de depressões profundas que matam, toda forma de expressão deve ser levada a sério e bem analisada. Recentemente, parece que por causa de depresssão, perdemos o cantor Chester Bennington, vocalista da banda Linkin Park. São tantos detalhes da vida para os quais não damos importãncia, ou rotulamos de "frescura", "isso passa", "é só uma fase", "coisa de adolescente", etc etc etc. Oremos.

Voltando ao mar. Lá na praia me vi refletindo sobre muita coisa e ao mesmo tempo deixado de lado outras. Vi a felicidade das pessoas lá, a democracia da praia, onde todos são iguais, estão lá pelo mesmo propósito, se vestem mais ou menos da mesma maneira. Usam seus "paus de selfie" e registram seus momentos felizes. Minha pequena descobriu a praia, sua primeira vez lá. Ficou extasiada com a água, as ondas, tudo. Quando a tirávamos da água ela mesmo com os dentinhos batendo de frio queria voltar. Não sabia se ficava na areia brincando ou no mar pulando ondas e tomando uns caldos também. Foi gratificante vê-la assim e me fez pensar o quanto sou responsável por ela, por sua formação, por quem ela vai ser no futuro. Eu e Bruno somos os principais guias dela agora. também não consigo pensar em fazer nada sem ela e isso é ser família: estamos conectados pro resto da vida, pra bem ou pra mal. Responsáveis por um ser humano que fará parte da sociedade amanhã (já faz!). Enfim... tanta coisa que só pai e mãe entendem e que nos faz pensar nos nossos próprios pais.

Meus pais estiveram aqui antes da nossa viagem. Minha mãe indagou se eu não tinha escolhido a pior profissão do mundo, e eu ia dizendo não, pensando numa resposta boa quando meu pai me resumiu: "Rebeca é uma idealista, que acredita que com o ensino, a educação vai mudar o mundo, fazer a diferença..." (mais ou menos isso) Eu só sorri e pensei, "é, é isso!". Será que estou errada?

Penso tanto em certo e errado, bem e mal, vivo nisso, e não aceito bem os erros que cometo, mas sei que vou continuar errando pelo simples fato de ser humana. E mesmo às vezes querendo me desprender disso, não tenho como fugir da minha própria essência: that's me. Ninguém foge de si mesmo, pode se moderar, alterar, modelar, porém a essência continua lá. Bem ou mal. Necessário é trabalhar o bem, ainda que a nossa essência nos puxe mais facilmente para o mal. Boa noite.

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