Diário da pandemia


Dia 18 de julho, um sábado, completou quatro meses de quarentena ou isolamento social, ao menos para mim. Eu vinha escrevendo no facebook quase todos os dias sobre essa quarentena, fazendo um diário da quarentena com algumas reflexões, via celular mesmo, que era minha única ferramenta de trabalho e a única que minha filha também usava para realizar suas atividades à distância. Graças a uma amiga (obrigada Andréa!) consegui um computador emprestado para dar conta das multitarefas para atender alunos, enviar anexos, enviar atividades, preparar material, fora as coisas de casa que recaem sobre as fêmeas humanas. E eu, que ficava achando uma bobajada falar de solidariedade, que não estamos sós, e blablabla, tenho me surpreendido com a bondade e solidariedade de amigos. Bom, não é que esteja surpresa, mas é difícil aceitar ajuda quando você não pede, simplesmente precisa. Quebra de orgulho que chama né, talvez propositadamente proporcionada à minha pessoa para me ensinar. Amém. 

Dia 31 de julho, sexta, tive que ir à rua e foi a primeira vez em quatro meses que voltei a pegar um ônibus. No geral, as pessoas seguem usando máscara, mas muitas vezes só a utilizam na hora de entrar no ônibus ou em algum estabelecimento comercial que esteja aberto. Muita gente nas ruas do bairro circulando, relativamente poucas nos ônibus, pelo menos no horário em que fui e voltei. Enfim, vamos nos adequando, mas como sempre, nem todos. Ou por falta de conhecimento e desleixo mesmo, ou por se achar superior à maioria, caso dos que dizem, quando cobrados pelo uso de máscara, "você sabe com quem está falando?"

Passei por fases durante esses quatro meses. No início, fiquei numa boa. Duas semanas depois, comecei a sentir ansiedade, vestir roupa me incomodava, andava quase sem pela casa, coisa que não costumo fazer, irritabilidade alta, crise de nervos, a pior fase. Depois, fui me acalmando, procurando novamente as coisas que me estabilizam, sobretudo o espiritual. Fui a um culto na igreja local, mesmo receosa, pois precisava participar da Santa Ceia. As igrejas, ao menos aqui em BH, estão abertas com restrição no número de participantes, cadeiras afastadas, ninguém se cumprimenta de perto, uso de máscaras e álcool em gel. Ainda assim, não estou indo a todos os cultos, que aumentaram em número para evitar as aglomerações. Acho que nesse momento precisamos nos descobrir igreja e buscar mais o pai em casa, que é onde devemos mais estar. 

Quando saí, fiquei um pouco assustada e triste. Passei por escolas fechadas, e me deu um aperto, até um a lágrima saiu, orei em pensamento pela humanidade. Para além do merecimento que não temos, somos a criação divina e Ele certamente não quer que soframos dessa maneira. è estranho não ver o movimento normal nas ruas, esbarrar nas pessoas, gente gritando nas praças vendendo suas coisas, o banho correndo que a gente toma e o almoço mal mastigado pra ir trabalhar e levar a criança na escola. Aliás, creio que as crianças aceitam melhor isso tudo. A minha por exemplo, as vezes quer sair, está também estressada, mas logo se distrai com os desenhos na televisão ou as tarefas de educação física que ela ama. Tem seus brinquedos, seu mundo. Também brinco com ela quando dá, logo canso, ela tem muita energia. Faço meus exercícios de caminhada em casa, que comecei a fazer nesse tempo de pandemia mesmo, ainda assim não estou com o corpo muito bom pra acompanhar uma menina de seis anos. Aliás, envelhecer tem sido difícil e, pelo que me falaram, ainda vai piorar. Mas estou estranhamente bem esses dias, se não sem dores pelo corpo todo, ao menos em paz de espírito, ou algo assim, não sei. Tem dias que estou serena, mas vai anoitecendo e a ansiedade ataca, tem vezes que vem aquela dor de cabeça chata, enfim. Estou vivendo um dia de cada vez, como no AA. inclusive achei a oração da serenidade, que lembrei ter visto em Grey's Anatomy, e postei no face, o que ajudou um amigo que comentou que precisava de tal oração naquele momento. Incrível como podemos ser canais espirituais, como somos ligados pelo laço da humanidade mesmo, em seu sentido primordial. Sei lá, há um lado conectado e espiritualizado em nós que parece estar mais acessível em tempos difíceis como o que estamos vivendo. Eis a oração:

“Deus,
Conceda-me a serenidade
Para aceitar aquilo que não posso mudar,
A coragem para mudar o que me for possível
E a sabedoria para saber discernir entre as duas.
Vivendo um dia de cada vez,
Apreciando um momento de cada vez,
Recebendo as dificuldades como um caminho para a paz,
Aceitando este mundo cheio de pecados como ele é, assim como fez Jesus, e não como gostaria que ele fosse;
Confiando que o Senhor fará tudo dar certo
Se eu me entregar à Sua vontade;
Pois assim poderei ser razoavelmente feliz nesta vida
E supremamente feliz ao Seu lado na outra.
Amém. ”

Não a postei na íntegra no face, somente as primeiras linhas que são mais conhecidas. Ha poder nas palavras.

Sobre a volta as aulas, não acho que seja o momento, apesar de o governador já ter dito que com certeza voltaríamos no segundo semestre. Vários outros países não tem tido sucesso na reabertura de escolas, mesmo sem aglomerações. O vírus é novo, está por aí, não creio que voltaremos ao que era antes este ano. Não sei como ficará o ano letivo, mas imagino que nenhum aluno poderá ser impedido de repetir ou passar, pois são as opções e ambas tem seus prós e contras, tanto para o governo quanto para alunos. Nós, professores, sempre "repetimos" o ano, isto é, recebemos todo ano os alunos dos mesmos anos, alguns novos, outros repetidos. Continuamos trabalhando de longe, preenchendo nossos anexos e relatórios, declarações, atividades no google classroom, etc. Tenho acompanhado um evento da ALAB através de lives no youtube, que ate encerrou nesse 31 de julho. Foram falas importantes a respeito de temas da linguística atrelando as "novos tempos". Mas nada disso é novo, só olhar a história, de tempos em tempos entramos em diferentes eras que nos renovam e tbm à naturea. Vai passar, cereta, mas o que nos angustia é quando. 

Only God knows, and this is all. 

Bye!


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