Diário do Ensino Híbrido


Dia 08 - Voltamos, obrigados. Aos alunos, é facultativa a volta presencial, o que é justo. Muito se faz pelo aluno, o que é justo. Seria ainda mais justo que se fizesse tal qual esforço para manter e atrair o professor. Ficamos por muitas rasões, diversas como nossas personalidades: amor à profissão, sentimento de pertença àquela carreira, por missão, por fé na educação, etc etc. Pois se citamos salário e condições de trabalho, espantamos os jovens recém chegados à vida adulta, às voltas com sua decisão de curso de faculdade, pois, para a maior parte das pessoas, aquele curso determinará o resto de sua vida, considerando que não podemos nos dar ao luxo de cursar uma faculdade de 5, 6 anos por mero esporte. 

Pois bem, voltando ao assunto do momento, exatamente uma volta ao presencial, tem sido, aparentemente, "tranquila": parece que está tudo dentro do nosso trabalho de sempre normal, com alguns ajustes daqui e dali. Fora os que não conseguem se conter e se abraçam - sim, isso tem acontecido entre docentes e staff - temos mantido o distanciamento, a escola distribui máscaras cirúrgicas e até viseiras, tem álcool gel e computadores para cumprir os módulos (horários "vagos" do professor entre uma aula e outra). Parece tudo muito bom, tudo muito bem, até o momento da saída. O horário é o "normal", cumprido à risca. Na entrada até há controle, um por um, vão passando os alunos, poucos professores por conta de revesamento de dias e semanas de aula presencial e online. Mas ao sair, saem todos juntos, o que me preocupa. Todos de máscara, até o momento pelo que tenho observado. Mas, como eu já até disse em sala aos alunos, a medida mais efetiva contra a covid-19 é o distanciamento, acredito eu.

Assim como eu, grande parte dos alunos chega à escola por transporte público, ônibus, que como todos devem já ter percebido no dia a dia e pelas reportagens, vêm cheios e algumas linhas até com horário reduzido, o que vai diretamente contra o que se propõe para combate à proliferação da doença, que seria mais veículos na rua com menos gente em cada um. E sabemos que em nosso país especialmente, o ideal não é o real. 

Chego preocupada à escola os dias em que vou. Chamam-me de pessimista, já fui na vida, mas agora procuro não cultivar pensamentos do mal, porém percebo o que acontece na realidade. Sim, dizem que todo pessimista se considera um realista, pode ser. Sei que todos queremos a volta da normalidade, o controle ainda que ilusório de nossas próprias vidas, o ir e vir sem se preocupar se está usando máscara ou não. Ah, isso também! Houve especial relaxamento de medidas por aí, muitos comércios não cobram o uso de máscara, nos ônibus mesmo vejo pessoas entrando e saindo sem, ou algumas entram usando e tiram ao entrar no veículo. Não culpo os motoristas de ônibus, já sobrecarregados com seu papel principal, e mais o de cobrador. Não são fiscais e muitas vezes, eles mesmo não utilizam máscaras. Culpa essa sangria, esse fogo no rabo, com perdão da expressão, de voltar logo à normalidade, de nos livrar dessa doença, sendo que leva tempo, e queremos correr com as coisas. Ao voltar ao trabalho presencial, tive aquela sensação boa de novamente estra na sala com os alunos, mas por mais estranho que pareça, temos que frear essa sensação e não nos deixar dominar por ela, achando que já está tudo bem. tem pessoas doentes, internadas, entubadas, morrendo, faltam leitos, faltam materiais nos hospitais. Com intuito de nos fazer voltar como se estivesse tudo bem, percebem como a mídia está fazendo menos alarde em relação à doença? Óbvio que há outras questões acontecendo no mundo que não são menos importantes, mas não é por causa da covid-19 que estamos quase que há dois anos com essas medidas que mudaram toda nossa vida? e de repente, vamos reabrir tudo, voltar ao "normal"? Não. Voltemos sim ao presencial, colegas e alunos, mas com a consciência de que nem todos se vacinaram no país e nem todos tem sequer condições de manter distancia e até mesmo higiene pessoal adequada e acesso a sabonete, sabão e álcool gel. É essa parcela da população que a escola pública atende. 

Enquanto isso, roda o "Criança Esperança". Nunca senti tanto ranço. Bye!

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