Será que estamos entendendo Deus errado?


Apaguei tudo que tinha escrito aqui, devaneios. Acredito sim que estamos (ou estou?) entendendo Deus errado. Não o vejo mais como o Deus castigador do Velho Testamento. Tampouco com a ampla tolerancia dos neo-pentecostais. Ele é um Deus pessoal, portanto, se revela de forma particular a cada um. Se Moisés escreveu o Pentateuco o via daquela maneira, ou escreveu daquela maneira é porque chegou a seus ouvidos o Deus judaico daquela maneira, naquela visão de mundo dele. Lembrando que não havia escrita até certa época da humanidade, portanto as coisas eram contadas nas famílias, aos vizinhos e assim ia. Tanto que nos veio o ditado "quem conta um conto aumenta um ponto". Não há ma em dizer que há visão de mundo humana na Bíblia, pois se Deus se relaciona conosco, bem sabia Ele que assim seria. Se eu escrevesse qualquer parte da Bíblia, esta ia ter a minha particular visão de mundo. Porque há os quatro evangelhos, livros apócrifos, etc? Cada um traz uma visão de Deus e Cristo. O que chega para nós ocidentais do século XXI é Cristo e sua mensagem de paz e amor, tal qual os hippies. Não devemos nem podemos e é até quase que impossível seguir as leis do Velho testamento, que são leis judaicas, escritas e destinadas ao povo judeu. Elas continuaram no Novo Testamento, mas como eu disse, se a figura que nos chega é o Cristo, que ordenou aos discípulos (e não a nós) ir pelo mundo e pregar o evangelho=boas novas, não faz sentido seguirmos as leis antigas. Claro que há leis que dizem respeito a moralidade e tem sido mantidas de forma geral pela humanidade, tal como não matar, mas a entrega do dízimo por exemplo, não pode ser cobrada como mandamento e condição de ir para o céu, como ouvi praticamente a vida inteira. 

A bíblia é um livro simbólico. Não é óbvio? Para mim até pouco tempo não o era. Creio em sua totalidade ainda, mas pode ser que certas partes não sejam literais. E o perigo disso é a ignorância, a ação ignorante que temos visto em nome "da família". Eu por exemplo quando li o apocalipse pela primeira vez, quando criança ainda, me debulhei em lágrimas de desespero achando que a qualquer momento poderiam vir a surgir monstros do mar e da terra que iam destruir e matar a todos nós. Na verdade nem me assusta mais essa possibilidade ou qualquer outra que esteja escrita na Bíblia. 

A espera pela segunda volta de Cristo é também algo polêmico. Está claramente escrito que Cristo virou para os seus discípulos e disse que não passaria aquela geração sem que Ele voltasse, sem que aqueles sinais de sua segunda vinda se cumprissem. Ora, se aquela geração já passou há milênios, Cristo já voltou e não o vimos? A escrita da bíblia em nossa língua é fiel ou teve erros, exageros, reparações? Eu não sei. Por isso a nossa fé deve estar focada em Cristo e todo o resto nem importa. O que importa então? Praticar a verdadeira religião, que é SOCIAL!!

A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo.

Sim, Cristo era assistencialista e socialista. Não importa o quanto a Bíblia tenha sido manipulada ou alterada, essa parte por algum motivo, ficou. Que Cristo curava enfermos, ressuscitava mortos e dava de comer ao povo. Em uma determinada ocasião, os discípulos queriam mandar todo mundo embora para cada um se virar, mas Cristo mandou eles alimentarem a multidão. Não disse a ninguém que trabalhasse para ganhar seu próprio pão, pois eles estavam como fome ali, naquela hora, e precisavam de socorro ali, naquela hora. O que vale é o presente. 

O grande mérito da Bíblia e da maior parte dos livros sagrados, é revelar o quanto o ser humano necessita entender a si mesmo, aos fenômenos que acontecem pelo mundo, entender seus relacionamentos. As Sagradas Escrituras nos dizem que há algo a mais, algo que os olhos não vêem e que nos é caro e especial, faz parte de nós e da qual fazemos parte. Todos nós sabemos disso, em maior ou menor grau. Não há ser humano na terra que nunca tenha questionado ou pensado em suas origens, de onde veio, por que está aqui, por que sofre tanto, para onde vai depois da morte, se há um depois. Sentimos que há algo intocável, intangível, tal qual os sentimento e emoções, tal qual o amor. 

Arrisco dizer que estamos nesse mundo para nos relacionarmos um com o outro e com Ele. E há maneira certa de se relacionar? Não! Existem coisas aceitáveis ou não em um relacionamento, mas até essas coisas vão da particularidade de cada um, passando pela cultura e fé também. As igrejas de hoje e de sempre servem para isso, reunir as pessoas com um objetivo comum para se relacionarem. Ir a igreja deve ser livre, movido pelo entendimento da comunhão, e não uma obrigação e condição para a vida eterna. Entregar dízimo e ofertas deve ser esclarecido como uma forma de manter aquele local e mais uma vez, não como imposição, terror, ameaça. 

Tal como Paulo, achei por muito tempo estar fazendo o certo e a vontade de Deus, passando por cima de muita coisa, inclusive de mim mesma. Passando por cima do outro, apontando-o como errado. O mundo é errado, quem está na igreja é o certo. Se a verdade fosse reta assim, seria mais fácil. 

E a salvação? Ela tem a ver com a segunda vinda, ou com a iminente destruição do mundo e reconstrução do mesmo, "novos céus e nova terra". Acredito que temos que viver da melhor maneira possível, respeitando a vida alheia no seu todo. E, havendo a possibilidade de estarmos aos lado do Pai, Jesus mesmo falou que quer crer e for batizado, será salvo. Outra cena da vida de Cristo que foi simbolicamente deixada para nós: o ladrão/ bandido na cruz ao lado de Cristo, que não foi batizado, apenas creu. No fim, das contas, é a fé que nos salva. 

Que nos resta? Nos relacionar com Ele e com os outros, seguir preceitos que fazem sentido para nós, preservar corpo e mente, alimentar o espírito. Cuidar, crer, confiar. 

E você, pensa o que?

Comentários

Lucia disse…
Penso como você. O Deus que existe é aquele que habita em mim e somente eu sou capaz de interpretar sua existencia...E interpreto agradecendo o viver.
Excelente texto para reflexão. Parabéns!

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