I think I'm losing my mind

"acho que estou ficando doido"

39 anos. Acordou, foi trocar a toalha imunda da mesa da cozinha, se é que aquilo era uma cozinha. Tirou a toalha, foi ao quarto, pegou outra, voltou e estendeu a toalha. Não conseguia decidir que lado estava pior para colocar, uns pedaços de arroz grudados, manchas, e do lado do avesso também aparecia tudo muito feio, as manchas... de repente percebeu que estava estendendo a mesma toalha que tinha tirado segundos antes. Enrolou-a, jogou nas roupas sujas, estendeu a mais nova, tão velha quanto, mas menos feia. Poderia ter rido dessa distração, mas preocupou-se. Não era a primeira vez. 

Professora é tudo maluca, tudo doida, todas fazem isso, aquilo, prof é tudo igual, mulher é assim, é assado, etc etc etc. Todo professor ou bebe ou toma um rivotril ou algo similar, ai que se não for assim, a gente não vive, blá-blá-blá..e tantas outras falácias da sala dos professores lhe ecoavam na mente.

Quer dizer que era tudo coisa da profissão? Então era só largar e tudo se resolveria? E o financeiro? Não podia.

Não posso, ao menos por enquanto. Tudo que demanda tempo, o tempo é dobrado para mim. 

39 anos e já assim. Eu. Quem sou eu?

O que fazer com a próxima semana, como entrar na sala de aula daquela escola, com aquela turma, com aquela aluna depois de tudo que esta lhe disse aos berros na frente de todos, sem o menor respeito ou pudor? Como ensinar... o que ensinava mesmo? dava nem para lembrar..

Verb to be. Am, is, are. not. was, were. not. Will be, won't be.  

Why, lover, why? E ouvia a música voltando aos seus tempos de crianças, pré-adolescente. 

39 anos. Queria parar no tempo, nessa precisa idade, não avançar mais, Deus, tudo parecia muito pior depois dos -enta, depois que passasse desse portal dos -enta. Ou não? Tinha inteligência o suficiente para saber que não era tudo tão assim preto no branco, mas sabia do efeito dominó também, infalível. Sabia que a insanidade vai tomando espaço aos pouquinhos na mente, a gente não sente. Esquece uma coisa dali, confunde outra daqui. 

Não somos pagos para isso! Ouvia sempre... mas e aí, fazemos as paralisações, greves, licenças e voltamos, voltamos, pagamos o preço, cada um deles, todos eles. 

O aluno vem, o aluno vai deixando a sua marca em nós, em sua maioria, marcas a ferro de medo, traumas, a má educação que traz de casa, a revolta com sua própria vida, a falta de noção e consciência do que seja escola estar na escola, sala de aula, professores, autoridades. 

De repente tudo doía e o corpo tomou as dores da mente: dor de cabeça, atrás do olhos, músculos e articulações doloridos como se tivesse acabado de sair da academia. 

Como se tivesse acabado. 

Como se tivesse acabada. Estava humilhada, acanhada, acabada. Tinha nem vinte e tantos anos de carreira para empinar o nariz e fazer discurso de início de ano como a maior parte de diretores o faz, mas já estava sentindo-se humilhada o suficiente para parar e nunca mais pisar no lugar que tanto amou e que tanto lhe tirou. 

Bye bye escola. Bye bye.

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