Profissão perigo

Eu adoeci na profissão de professora porque me forcei a fazer algo em que nunca fui boa e que nunca quis: falar alto e claro em público. A fala sempre foi problema para mim e lá no fundo, mesmo sem dizer a ninguém, eu sabia que ser professora seria furada. Mas eu dei o meu melhor e muitas vezes gostei de estar ali com aqueles teens. Sentia que realmente tinha algo a ensinar, mas com o tempo, vi que o que eu tinha ou sabia foi ficando defasado e as novas gerações que vinham tinham outros interesses, inclusive fazenda da escola não mais local de estudo, mas de qualquer outra coisa. 

Eu amo educação, é a minha área. Amo linguística, literatura, letras, tudo relacionado. Amo sobretudo o conhecimento, o saber. 

Quando digo que sempre tive problemas com a fala, isso diz respeito mais à socialização, ao falar e me expressar com e para o outro, e não a algum problema físico no meu desenvolvimento corporal. 

Agora, adulta, aos 40, me vejo em casa, cuidando do emocional com psiquiatra, psicólogas, cuidando de um marido amputado e uma filha de dez anos, além da nova moradora que adotamos, a cachorrinha Lumy. 

Cansada.

E quando falo cansada, do jeito que falo, diz meu marido, soa como reclamação, como peso. E não deixa de ser. Porém, a despeito do meu problema de expressar-me com a fala, sinto muitas vezes a necessidade de falar isso tudo, e falo com ele. Que me perdoem as pessoas que me consideram amiga, mas eu não tenho amigos, no sentido mais intimo dessa palavra, aquela pessoa a que você pode recorrer a qualquer momento, sem julgamentos. Amigos não se julgam? Já tive tanto dedo apontado na cara de ditos amigos, julgamentos tantos que por fim devo ter desistido de me forçar também a essa atividade, to make friends

E aí achei que ele era meu amigo. E é, mas não do tipo que não vá me julgar, brigar e ficar sem falar comigo. As relações me cansam e tenho pensado se não deveria ter permanecido solteira e solitária com meus gatos. Minha filha é benção. Conviver com ela enquanto esperávamos o pai sair da internação foi um momento angustiante, mas estava tão bom, tão pacífico, tão leve. 

Eu também sou peso na vida do outro. E como que a gente faz para ser leve? 

Namorar é a melhor coisa. Acho que eu queria isso, um namoro estável, apenas. Mas antes estava mergulhada na crença do certo e errado, então se tenho que fazer o certo, tenho que casar. Balela. Não me arrependo de ter me casado, porém não era necessário. Talvez estivéssemos mais leves agora. 

Eu não falo do meu casamento com ninguém, nem com as psicólogas. O que eu ralei por ese homem, para que tudo estivesse minimamente arrumado quando ele chegasse... eu mereço estar aqui no meu apartamento, mereço estar com ele, ele merece estar comigo?

Penso, penso, penso e logo desisto. Faço escolhas ditas covardes, eu não vou embora. É uma escolha. 

Estou me libertando, aos poucos, das amarras da religião. Estou na vibe "conheço e respeto todas, e não sigo nenhuma". Oro, falo com Deus. Pratico a gratidão, tenho consciencia de que nosso mundo e nós somos movidos por energias. Deus em nós, somos deuses, in a way

Eu estou gostando de viver no meu apertamento, em condomínio. Esses dias aconteceu um bruta BO por aqui, grupo de whatsapp fechado há dois dias, mas acredito que aos poucos a vida vai seguindo, a despeito de nós, a despeito de tudo. Eu tenho uma cachorra a quem dou ração, ea tem coleira, come petiscos, três mees e aprendeu a sentar para comer. Isso me surpreende, as coisas pequenas assim me pegam de vez em quando , quando de repente as percebo. Pois eu sou favelada, morei em lugares terríveis, passei por enchentes com meus pais e irmãos, vivia em casas que tinham a fiação toda exposta, tijolo no cimento, chão no cimento, ratos e baratas passando. Hoje, ao olhar para essas paredes todas bonitinhas do apto, sem ver os fios e os canos, sinto aquele aquecimento no coração, um ataque de felicidade, uma vontade de sorrir. Não dura muito, mas amo muito tudo isso.

Amor. 

Eu vivia dizendo "eu te amo" por aí, por acreditar que aquelas paixões que me atacavam eram amor. Agora tampouco sinto que essa amizde íntima é amor. Não encontrei jamais o que procurava, mas creio ter entrado em contayto não com minha alma gêmea como eu achava, mas com a chama gêmea. Através do contato com questões de espiritualidade e paranormalidade, compreendi que não se pode ter um final feliz com a chama gêmea. Então está tudo explicado, e de repente senti paz com isso. 

Outo dia, ao terminar um vídeo em que uma oração meditativa foi feita, eu vislumbrei minha partida desse mundo, como vai ser. Novamete a maior sensação de paz! Nunca estive errada, sempre achei que ia partir bem velha. Porém, eu estava só. Tinha minha filha, tinha muita gente na casa, como se fosse uma festa, e então eu fui. Vou ter uma neta que será muito ligada comigo. Mas eu não tinha nenhum companheiro a meu lado. Quando saí do meu corpo, era jovem de novo, e corria por um campo verde de grama alta e macia. Eu olhava para trás de repente e me via, as pessoas em volta já chorando, e sentia muita gratidão pela vida que vivi. Sentia que estava partindo para uma outra jornada, apenas. Outra vida, outra reencarnação, outro planeta, outra dimensão? Não sei. Eu estava feliz. 

Estou vivendo o melhor momento, pois o melhor momento é precisamente o presente, que é o que temos. 

A profissão me adoeceu por n razões, e eu não sou profesora. Não sou só professora, sou escritora, poeta, sou tanto e tudo, minha filha é extensão de mim. Sou e vou continuar sendo mais e evoluidno mais. Quero evoluir agora, nese plano. Quero mais. Estou focada em mim então não espere mais nada, eu não vou forçar as amizades, vou deixar e deejar que aconteçam como deve ser, em seu curso natural. Pessoas vem e vão. Muitas vezes dói, faz parte do proceso. Qual? Vida. 

"Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa

não sou alegre nem sou triste:

sou poeta"

Cecília Meirelles

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Nada novo - 2024

O que é melhor