Café frio


Deixo o café gelar no braço do sofá. Tomo um gole com o filme quase terminando. Não consegui as legendas em português, então deixei as em inglês mesmo. A palavra escrita é a minha praia. Meu marido me perguntou algumas vezes "o que ele disse, o que ele disse?" E eu não soube dizer, expliquei que o povo fala muito rápido e tals. Parte da verdade. A verdade é que eu vou passar perrengue quando chegar algum dia lá fora. É um medo. Não é preciso saber língua inglesa porcaria nenhuma para viajar, é preciso ter os meios para a viagem, ponto. 

E o filme, não que meu marido veja comigo, sempre vê partes. Nós somos estranhos em certos níveis e de certa maneira. Eu nunca falo de nós. E o filme era sobre um psicopata. Eu não quero nem saber porque gosto tanto de filmes com esse perfil psicológico. 

Saio para o gramado para dar uma volta com a cachorra, a filha vem junto. Nunca me achei assim competente para cuidar de tanta vida. Mas ainda quero recuperar minha competência trabalhista em uma área diferente, claro. Porque não sou mais professora de sala de aula. No more

Se ficar parada por um ano e tanto fosse com o dobro do salário, teria viajado muito mais (teria mesmo?) ou comprado tudo para nosso apartamento. O apartamento tá mal acabado, feio até. Estou feia, a vida é feia sob esse prisma. Feias essas queimadas que enfeiam o meu céu mineiro. 

Eu queria escrever para jornal. "Não queres mais?" Diriam os portugueses e eu teria que lhes explicar que é um mode de dizer muito brasileiro que demonstra uma frustração, um desejo não realizado que, com boa fortuna, pode vir a realidade. 

Eu não coloco lacinhos ou frufrus na minha cachorra. E todos a tratam por "ele". 2024 avançamos mas nem tanto. Minha candidata a prefeita da cidade é trans. Mudei meus pensamentos? Irmão, você não sabe o quanto! 

Eu saio com a cachorra ao entardecer, enquanto ainda não é noite. Teremos uma janta apertada hoje, como todas as refeições de todos os outros dias. Quem é pobre sabe como é o final-início de mês. Mas eu nem seria mais colocada na faixa pobre por ter uma apartamento que vou pagar a vida toda. Pobre Premium, sabe como é. 

Tô sem os remédios, mas não noto grandes diferenças. Volto ao café frio, que detesto. Por que faço isso?

Mistérios do ser. Bye!

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